Rafael não pretende exercer qualquer tipo de preconceito, pelo contrário, sua arte busca a erradicação dos mesmo através de metáforas desmistificadoras.
Padre Hells
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Tem um texto dentro do álbum em resposta as ameaças de processo, fiz esse trabalho acho que em 2012, mas ele só foi repercutir em 2014 quando amigos viram o álbum por acaso e compartilharam, terceiros viram o trabalho e começaram a me ameaçar, teve de tudo, produtores musicais da cidade e em seguida os padres da região, todo dia era uma encheção de saco, ameaças de processo por escarnio a objeto de culto, exigiam que eu retirasse o trabalho da web por ser imoral e ilegal, eu resisti e mantive minha posição, respondia as ameaças com o texto do álbum e bloqueava os caras, era muito assédio, 2014 foi infernal o ano todo, até que pouco a pouco eles foram desistindo, mesmo assim, desde 2012 ainda sou xingado na rua, no ônibus, no trem, no mercado, fiz camisetas com o padre, que uso e também comercializo, já vi pais hostilizarem os filhos na rua por conta dos filhos acharem a camisa engraçada e darem risadas, também tem as senhoras alemoas idosas no trem que fazem aquela cara de desaprovação e ódio, que como todo com cristão, gostariam de me empalar ou jogar em uma fogueira, claro eu sabia que seria dessa forma, mas não conseguiria viver nesse vale, no meio disso tudo, desse caos, sem devolver na mesma moeda, foi como mexer em um vespeiro, mas é muita hipocrisia, moro em uma cidade onde dizem ser o berço da colonização alemã no Brasil, onde todos são cristãos e bondosos, mas pera, tem alguma coisa errada, algo que não fecha com a realidade, algo que tive que descobrir sozinho, como assim, berço da colonização alemã, se os paralelepipedos sentados na chamada Rua Grande ou Independência como chamamos, foram sentados por pessoas negras, por escravos, me pergunto, por que?? por que diabos não aprendi isso no ensino fundamental, nem no ensino médio, por que os professores não falam disso, vivo em uma cidade onde existiu a Real Feitoria do linho Cânhamo, uma das maiores Feitorias criadas pelo colonizadores portugueses, construída com mão de obra escrava, construída com sangue indigena, e os índios pra não serem dizimados fugiram pro norte do país, a Rua Grande e muitas outras vias de acesso a cidade foram construídas com sangue e suor negro pra levar os insumos produzidos aqui até a capital, Moro em uma cidade onde tem um lugar chamado QUILOMBO, meu, tem um quilombo aqui no bairro feitoria, pra onde os negros fugiam, um quilombo, meus professores de história do fundamental e médio devem ter comido merda pra não falar de algo tão foda, como eu sou um fodido mesmo, tive que parar de estudar no segundo ano do ensino médio porque precisava trabalhar, só que não era apenas o turno normal, o cara que me contratou foi bem explicito, me disse que se eu não fizesse hora extra não poderia ficar comigo, optei por ficar na empresa e adquirir experiencia, conto isso pra chegar em um outro ponto, dois anos depois saí da empresa, isso foi em 1999, mas só voltei a estudar 10 anos mais tarde em 1999 e chegamos na questão, quanto voltei a estudar, na minha sala estava estudando uma senhora negra de quase 80 anos, era a dona Dolores, um elo perdido com esse passado sórdido, ela era descendente direta de pessoas escravas dessa Feitoria e contava que quando os portugueses largaram fora, muitos negros que era escravos dos portugas, viraram escravos dos alemães, pois não sabiam viver de outra forma, e isso aconteceu com o avô de bisavô dela se não me engano, mas ela mesma quando jovem, trabalhou em uma casa sem receber salário, apenas em troca do repasto, através dos anos tive que ir ligando os pontos conversando com um e outro, lendo, pesquisando, mas vivo na cidade em que todo ano na São Leopoldo Fest é comemorada a chegada do colonizador alemão no dia 25 de julho, que veio trazer prosperidade ao vale dos sinos, vivo na cidade em que tem um Obelisco enorme na praça do imigrante que homenageia os portugueses e alemães, aquilo pra mim é um falo enorme, dizendo "viemos aqui socar uma geba no rabo dos índios e dos negros, e aí, engulam essa!!!" Esse trabalho do padre desafia essa galera religiosa e preconceituosa que acredita na pureza germânica desse vale, e a raiva deles deve ser um tanto confusa ao ver um branco, loiro de olhos claros como eu tirando um sarro da cara deles.
Cyber afro retrofuturismo
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em 2010 após uma amiga que é professora de arte, ministrar uma oficina de cerâmica baseada na cultura africana, comecei a fazer pesquisas sobre o tema e criei representações dessas figuras ancestrais africanas, mas com materiais que tenho mais intimidade, que no caso é o aço por conta do trabalho na indústria, utilizando também lixo eletrônico e materiais orgânicos como as chifres dessa máscara, chamei de Cyber afro retrofuturismo, cyber por conta do tecnológico, afro fazendo referência a matriz africana claro e retrofuturismo é o novo com cara de velho e o velho com cara de novo.
Sabotagem stencils
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Esse trabalho aqui quase que dispensa comentários, Xanadú é uma casa de prostituição super famosa aqui na cidade, por ser bastante velha e por ficar localizada na BR116, foi perigoso fazer essa intervenção, colocar essa geba no meio das pernas delas, ainda mais em um dia que a casa estava lotada e funcionando, mas o fato é que essas mulheres que trabalham nesse lugar, são reféns, praticamente não saem lá de dentro, e a galera vem com esse papo de que é uma escolha delas, o lance é que eu não tinha muito o que fazer e pensei ao menos incomodar eu vou, isso foi em 2012 também, eles demoraram 4 dias pra se ligarem dos caralhos na silhuetas, depois disso pintaram toda a parede de preto, foda é que as mulheres continuam lá dentro, escravas, mas foi a forma de dizer pros caras de uma maneira que eles entendessem, tipo assim, aqui ó pau duro pra vocês.
Aquarela do Brasil
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Ainda to trabalhando nesse aqui, mas de forma mais lenta, levantando questionamentos e mostrando esse povo todo que mora na rua e a galera não quer ver, to fazendo esses retratos deles em aquarela e stencil, normalmente aplico os stencils nos lugares onde eles não são bem quistos ou são expulsos, não fui bem recebido por causa desse trabalho, me acusam de querer me promover em cima da imagem dos moradores de rua, mas não vejo ninguém que me acusa fazendo qualquer coisa pra ajudar essa galera ou se questionar o porque deles existirem, até pouco tempo eu me questionava da serventia do morador de rua pro sistema que a gente vive, baseado em produção e consumo, tipo, se os caras não consomem nada, vivem dos restos das pessoas, não produzem nada, pra que eles servem?? Na real acho que o morador de rua serve como aviso, faz a manutenção do sistema "trabalhe, trabalhe e trabalhe ou o próximo pode ser vc" , sempre que converso com alguém sobre, essa pessoa diz que o morador de rua é vagabundo, então o senso comum direciona as pessoas a acreditarem nessa balela do trabalho e faz a manutenção da prisão sem muros. Cara, não sei mais muito bem o que mostrar ou dizer, no meu perfil tem mais de 60 álbuns de trabalhos, eu sempre fico perdido quando tenho que dar entrevista, agora é contigo se quiser dar mais direção, fazer alguma pergunta, e fica a vontade pra ver os trabalhos. Rafael Carlos, em contato com a arte desde a adolescência, sendo que começou a realizar exposições apenas aos 27 anos. Em 2009 iniciou um trabalho com os amigos músicos, Izaky Grimm e Marcos Kaiber, que misturava apresentações musicais e artes visuais, realizando exposições por São Leopoldo e região metropolitana de Porto Alegre, ganhando espaço em revistas , jornais e televisão. Aos 14 anos, com grande influência da música e tatuagem iniciou pesquisas acerca de referências , também nesta data adquiriu conhecimento em mecânica industrial, sendo que este conhecimento tem grande influência em seus trabalhos. Com 15 anos participou de uma banda de rock, chamada “Altos teores”, já a segunda banda formada teve uma grande influência do punk rock e seus ideais. Da influência punk veio o ideal ´´ faça você mesmo". O punk também deu um toque de protesto e questionamento nos trabalhos visuais, sendo que desta influência não se tem muito do que falar, pois o punk nos faz acordar como uma rasteira ou um soco na cara!!! Da influência da tatuagem, surgiram habilidades com desenhos a mão livre, trabalhando como tatuador durante algum tempo paralelamente ao trabalho na indústria, com pesquisas através da tatuagem sobre culturas tanto ocidentais e orientais já quase esquecidas, as obras em muitos aspectos tendem a fazer menção a tais culturas. Do conhecimento em mecânica , veio desenho digital que somados a criatividade, são a base para os trabalhos em escultura, começando pelo esboço a mão livre , arte digital, corte, dobra, solda. O artista, através de pesquisas, leva consigo na bagagem velocidade e tecnologia, voltando então com conceitos que contrapõem e completam-se. Ele descobre que o antigo pode ser moderno, e o moderno fica antigo. O orgânico, o tecnológico e o mecânico se misturam para criar uma biomecânica, A precisão da solda e do corte vão de encontro ao rústico do aço torcido, transformando-se em arte.